Bonhoeffer: “O cristão deve beber o cálice mundano até o fim”

rafael faria
1 min readMay 19, 2020

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Dizem que o que distingue o cristianismo é a sua proclamação da esperança da ressurreição e que isso significa o surgimento de uma genuína religião de redenção. A maior ênfase aí estaria do outro lado da fronteira traçada pela morte. Mas eu acho que isso é um erro e um perigo. Redenção nesse sentido significa redenção de preocupações, angústias, medos, de anseios, do pecado e da morte, num mundo melhor além do túmulo.

Mas esse é realmente o caráter essencial da proclamação de Cristo nos Evangelhos e em Paulo? Eu diria que não. A diferença entre a esperança cristã da ressurreição e uma esperança mitológica é que aquela manda a pessoa de volta à sua vida no mundo, mas de uma forma totalmente nova, diferente da esperança veterotestamentária. O cristão, diferente dos devotos dos mitos de redenção, não tem como fugir de suas tarefas e dificuldades mundanas para o eterno. Mas, como o próprio Cristo, o cristão deve beber o cálice mundano até o fim. E, somente ao bebê-lo, o Senhor crucificado e ressuscitado está com ele, e o cristão crucificado e ressuscitado está com Cristo. Este mundo não deve ser descartado de forma apressada. Nisto, o Antigo Testamento concorda com o Novo. Os mitos de redenção surgem das experiências humanas limítrofes, mas Cristo alcança a pessoa no centro da vida dela.

Trecho da carta de Dietrich Bonhoeffer para Eberhard Bethge escrita da prisão de Tegel em 27 de junho de 1944

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